Definir uma personalidade própria sendo herdeiro de um dos legados mais importantes do design nacional não é fácil. Mas quem visitou a ExpoRevestir 2020 pôde perceber a força de Zanini de Zanine durante lançamento de linha assinada de revestimentos. Sem esquecer o legado que o cerca, o designer mostra talento e personalidade únicos. Por Allaf Barros

“Diga com quem andas que direi quem és”. O ditado popular faz sentido ao analisarmos a trajetória de Zanini de Zanine. Dono de um repertório ímpar, o designer tem destaque no Brasil e no mundo graças às suas criações antenadas com tendências e transformadoras do ponto de vista técnico e formal. Com centenas de peças assinadas no Studio Zanini, com sede no Rio de Janeiro, o filho do consagrado arquiteto José Zanine Caldas é formado em desenho industrial pela PUC-Rio e durante um ano fez estágio com Sergio Rodrigues. Com quase 20 anos de carreira, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais por suas obras. A seguir você confere um bate papo com o profissional durante a Expo Revestir. 

Prancha, azulejo no tamanho 15 x 15cm, transfere para o revestimento o grafismo autoral de Zanini de Zanine. Com acabamento fosco delicado, uma tendência dos materiais e superfícies para as próximas temporadas, Prancha apresenta as cores branca e chumbo.

Como uma das estratégia para celebrar os 60 anos de presença nos lares de todo o Brasil, a Eliane Revestimentos convidou Zanini de Zanine para desenvolver a coleção Studio Zanini – a primeira criação em porcelanato esmaltado, azulejo e azulejo artístico do designer. As peças foram apresentadas na 18ª edição da Expo Revestir, que ocorreu entre 10 e 13 de março de 2020, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. A partir de um processo manual, em que lápis, papel e experimentos com formas, recortes e dobras são protagonistas, Zanini criou o porcelanato esmaltado Matriz, os azulejos Bloco, Esfera, Prancha, Capitonê e o azulejo artístico Cone. A inspiração surgiu da observação de diferentes geometrias e texturas das artes plásticas e populares, e de um projeto do final da década de 70 do pai, Zanine Caldas. “Estamos muito felizes em celebrar o aniversário da marca com a assinatura de um artista brasileiro. A parceria com Zanini de Zanine reflete a busca da empresa em imprimir cada vez mais em seus produtos um DNA do design brasileiro de alta qualidade e valor agregado”, avalia Siegfried Wagner, gerente de Marketing da Eliane. As peças trazem para a arquitetura volumes e estampas em grandes composições, resgatadas através da linguagem da cerâmica produzida em escala industrial, bem como a jovialidade, e vanguarda do design criativo e autoral do artista. “Procurei desenvolver as peças de maneira a unir a identidade da Eliane e Studio Zanini, os dois lados dessa parceria. O trabalho com a marca foi muito fácil, muito prazeroso. Eu trouxe uma geometria simples para os novos produtos, que a equipe técnica da empresa soube agregar muito bem. O resultado foram peças de uma simplicidade elegante”, explica o designer. Confira a seguir um bate-papo exclusivo de nossa redação com Zanini. 

Conforto visual é uma característica do Capitonê, azulejo acetinado no tamanho 15 x 45cm. A cerâmica traz uma informação discreta e unilateral em sua superfície, conferindo uma essência sutil e curiosa à cerâmica.

Como você idealizou a nova linha para a Eliane que foi apresentada durante a Expo Revestir?

Essa coleção nasce por conta dos 60 anos da marca. Aproveitamos a oportunidade e tivemos como ponto de partida o dimensionamento do azulejo 15 x 15 que é o formato do primeiro produto da Eliane, quando foi criada a fábrica. Unimos o DNA do nosso estúdio com o da grife. Partimos de referências geométricas bem simples, vindas da observação de artes plásticas em que a gente traz detalhes muito sutis (baixos e altos relevos) que a pessoa percebe chegando perto das peças. Fizemos uma aplicação de texturas bem básicas. A empresa tem a habilidade de escanear a cerâmica, podendo usar qualquer textura. Tecnicamente isso ajudou bastante. 

Você cursou design industrial na PUC-Rio, é filho de Zanine Caldos e foi estagiário de Sergio Rodrigues. Como essa bagagem te modelou para ser o profissional que você é hoje?

Foi uma grande sorte ter esse momento de aprendizado durante um ano no estúdio do Sergio Rodrigues, no Rio de Janeiro. Foi uma terceira faculdade: teve a PUC-RIO, a escola da vida — a que pude dividir com meu pai — e essa do Sergio que por mais curto que tenha sido foi de grande relevância para entender o dia a dia e também a linha de raciocínio e a relação dele com a liberdade da criação. 

Em breve você fará 20 anos de carreira. Seu processo de criação de um produto é livre?

Muito livre, muito liberto. Como são sempre experiências, processos, produtos e briefings diferentes, o grande ganho é que a gente faz tudo com liberdade de criação. A maioria das parcerias imprime essa liberdade. Seja em produtos simplórios, até aqueles mais técnicos e sofisticados. 

Sem clichês: como a sustentabilidade está presente nos seus produtos?

Esse olhar da sustentabilidade, vamos chamar assim, vem desde que sou muito pequeno porque o trabalho do meu pai é baseado nessa questão. Não só a arquitetura, como também mobiliário (tanto industrial quanto maciço) tinha essa preocupação e viés. Em alguns produtos a gente consegue imprimir mais a sustentabilidade e outros poucos menos devido a processos e reutilização de materiais. Mas um ponto interessante do nosso trabalho é que são produtos duradouros. Acredito que isso é um aspecto importante para a sustentabilidade: fazer um produto que não vá para o lixo tão cedo. 

Qual é sua criação favorita?

Difícil dizer uma em particular porque várias tive grande prazer no processo ou na realização final. Mas uma que gosto bastante é um cavalinho Gioco, feito em metacrilato há mais de 10 anos para uma indústria do Sul. 

O que te chama atenção no design lá fora?

Tento acompanhar bastante as tecnologias utilizadas, e olho para capacidade que algumas empresas têm de reinventar produtos e desenhos.

Ainda somos vistos como exóticos no exterior?

Também somos produtores de desenho exótico, mas existe uma escola industrial e funcional bem interessante no país não só voltado para estética, mas um desenho com esse casamento que funciona muito bem e que está sendo fortemente atuante aqui dentro. 

E os seus futuros projetos?

Vamos apresentar futuramente uma exposição de peças colecionáveis a partir de madeiras de demolições que são feitas por um processo de carpintaria. No final deste ano e começo do ano que vem vamos apresentar uma exposição individual na galeria R&Co Gallery, em Nova Iorque. 

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