Novos processos digitais do setor da construção civil é um dos principais pilares da programação de experiências da feira.

Após dois anos sem nenhuma edição por conta da pandemia, a FEICON, importante evento para os setores da construção civil e arquitetura, anuncia seu retorno. Com foco em transformação digital no varejo, a edição deste ano, como conta Lúcia Mourad, gerente da FEICON, tem 10% mais expositores confirmados do que a edição de 2019. “Temos acompanhado que, nos últimos dois anos, o setor tem apresentado números interessantes de crescimento e o avanço dos processos de inovação também é um ótimo sinal”, conta. A feira abordará também temas atuais como metaverso e digitalização para venda de terrenos. Em conversa exclusiva com a Téchne, Mourad fala sobre o evento, como as eleições podem interferir o mercado da construção civil e mais.

Como a pandemia afetou o mercado da construção civil?

A área da construção civil foi uma das poucas que apresentaram índices positivos nos dois primeiros anos de pandemia, sinalizando um impulso importante para o setor. Claro que, no início, com as restrições sociais, houve bastante receio e cautela, mas a classificação da indústria como atividade essencial, a adesão ao home office e os recursos do auxílio emergencial, entre outros fatores, constituíram uma rede de suporte para o setor. Além disso, o aquecimento do mercado no período também foi alimentado por um movimento comportamental importante: a mudança da relação das pessoas com seus lares. Passar mais tempo em casa voltou os olhares para necessidades, desejos e ajustes, o que levou a um verdadeiro “boom” de pequenas reformas o que, evidentemente, movimentou bastante o varejo.

Outro ponto interessante é que os baixos rendimentos da poupança incentivaram a busca por diferentes formas de investimento e a aquisição de imóveis e terrenos se mostrou uma opção atrativa, seja para a diversificação de recursos ou como fonte extra de renda. Na outra ponta, do lado das empresas do setor, a pandemia acelerou os processos digitais de forma bem acentuada. A construção civil é uma das áreas mais atrasadas em tecnologia, mas nos últimos dois anos o mercado testemunhou o crescimento exponencial das construtechs e a criação de soluções específicas para a indústria. Marcas e fornecedores criaram ou aprimoraram plataformas de e-commerce, melhoraram serviços de logística e entrega, firmaram parcerias para potencializar vendas através dos marketplaces, isso sem falar de maior aderência às metodologias de projetos, como o BIM, e maneiras de construir ou reformar mais rápidas, econômicas e sustentáveis.

Como a eleição presidencial afeta o setor e o que esperar de 2023?

Em ano eleitoral sempre há uma cautela maior, mas não é somente isso que deve impactar o mercado. Temos que considerar que a economia nacional não vive um momento estável, com inflação alta e as perspectivas do PIB abaixo de 1% para este ano, tanto que as projeções de crescimento do setor também são menores do que as registradas em 2020 e 2021, chegando a 2%. Sem contar que a pandemia, apesar da tendência de desaceleração com o avanço da vacinação, ainda não acabou. Somado a tudo isso, temos também o início recente do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que irá impactar na economia mundial, apesar dos efeitos ainda serem desconhecidos. 

Vivemos, portanto, um cenário inédito.  Mesmo assim, a construção civil segue inovando e evoluindo. Um indicador recente da Associação Brasileira de Incorporadoras imobiliárias (Abrainc-Fipe) mostrou que houve uma alta de 22% em lançamento de imóveis entre janeiro de novembro do ano passado em comparação a 2020.

Os projetos, tanto os que ainda estão programados quanto os já lançados, não devem parar. Acredito que teremos crescimento no próximo ano, superior a 2022, mas com fôlego menor do que o registrado em 2021, por conta de todas essas variáveis.   

Em termos de tecnologia, quais seriam os destaques da Feira?

Tecnologia, como sempre, será uma vertente importante. Os visitantes poderão conferir soluções de realidade aumentada, sistemas construtivos pré-fabricados com tecnologia embarcada além de diversas linhas de produto com automação para uma casa mais segura e conectada. As tecnologias imersivas também devem ganhar bastante espaço entre os expositores em suas demonstrações e lançamentos e nós também planejamos uma discussão especial sobre as possibilidades do metaverso na construção civil.

Os marketplaces e plataformas de e-commerce também estarão presentes na FEICON, oferecendo soluções para lojistas que querem digitalizar seu comércio. 

Para quem busca atualização teremos uma grade completa e bem conectada com as discussões mais recentes. Na Arena de Conteúdo do Varejo, Atacado e Distribuidor, será possível conferir as apresentações de especialistas sobre temas como impactos da transformação digital e internet das coisas (IoT) no setor, empoderamento digital do vendedor de loja, além das principais tecnologias discutidas na NRF (NY), Gitex (Dubai) e CES (Las Vegas).

Esses são apenas alguns spoilers e recomendo que o público fique ligado no site e nas redes sociais da FEICON para acompanhamento de todas as atualizações.

Pode falar um pouco sobre as principais tendências desse mercado hoje. 

São muitas as tendências responsáveis pela inovação do setor, que era considerado um dos mais obsoletos até recentemente. Atualmente, contamos com a tecnologia BIM que tem possibilitado a atuação integrada dos profissionais no planejamento da obra, apontando as melhores soluções, para evitar futuros problemas. Temos também as novas possibilidades de sistemas construtivos que têm permitindo a construção de edifícios fora dos canteiros de obra, por meio de um processo industrial, que possibilita levar os módulos prontos para o local da obra, em tempo rápido e com muita qualidade e redução de desperdício. Além disso, vale citar as políticas de ESG pautando as atuações das construtoras, bem como o desenvolvimento de materiais e sistemas sustentáveis. 

Os marketplaces também estão ganhando espaço e possibilitando novas alternativas de comercialização, antes concentradas apenas nas lojas físicas, sem contar a presença do metaverso e a comercialização de imóveis por meio de realidade virtual, possibilitando fazer bons negócios sem sair de casa. 

Resumindo, contamos com uma série de tendências que estão transformando e impulsionando todos os elos da cadeia da construção civil.

Estamos em um momento de recuperação do setor da construção civil?

Sim. Temos acompanhado que, nos últimos dois anos, o setor tem apresentado números interessantes de crescimento e o avanço dos processos de inovação também é um ótimo sinal. A boa aceitação de mercado (profissionais e clientes) aos novos métodos construtivos também gera boas perspectivas, tanto de geração de negócios quanto de novas soluções.

É claro que existem vários fatores externos que podem impactar os resultados esperados, mas os especialistas estão otimistas em relação às lições deixadas pela pandemia e toda a cadeia da construção está empenhada em entender como criar ou aproveitar oportunidades e melhorar performances. Este é justamente o papel da FEICON, fazer com que o mercado converse, apontando tendências e direções. 

Segundo a FGV, o custo para construir no Brasil abre 2022 com alta de 0,64%. Como isso impacta o mercado para os consumidores?

O encarecimento do custo para construir impacta no poder de compra dos consumidores, que vão buscar alternativas mais acessíveis, principalmente, para a aquisição de materiais para iniciar ou dar continuidade aos seus projetos. Por outro lado, isso mobiliza quem está do outro lado do balcão a desenvolver facilidades de pagamentos, apostar em promoções e em vendas casadas como forma de atrair a atenção. É um processo que impacta na concorrência. 

Importante considerar, também, que há um perfil considerável de consumidores mais focados nas políticas de atuação das empresas do que na marca ou preço. É um consumo mais consciente e que não considera, em alguns casos, o valor como fator decisivo.

E como isso impacta para as marcas e vendedores?

É um efeito cascata. Se os preços do custo da construção aumentam, logicamente que há um impacto no comércio e as vendas tendem a cair, principalmente em um cenário de alta inflação. Mas por outro lado, com as crises enfrentadas, o setor da construção deve oferecer alternativas para manter o mercado aquecido, mesmo que as projeções de crescimento sejam menores.  Como indiquei, as marcas devem buscar caminhos para manutenção das vendas, negociando condições de pagamentos e promoções. Já os vendedores, por sua vez, devem criar estratégias atrativas para os consumidores, como o bom atendimento, a compreensão da necessidade de cada cliente, a apresentação de soluções adequadas e, claro, suporte. Esses diferenciais costumam ser importantes, mesmo em situações em que o preço é uma problemática.

O que esperar em relação ao BIM para o evento deste ano?

O BIM tem ganhado muito espaço e possibilidade nos últimos dois anos, mas por conta da pandemia, acompanhamos as discussões e novidades à distância. No final do ano passado, por exemplo, apresentamos o 4º seminário BIM Brasil como um dos destaques do evento digital FEICON Live Show. 

Com a FEICON presencial, o objetivo é fazer com os players e profissionais do mercado tenham um contato mais próximo com as atualizações da metodologia, acompanhando na prática as suas funções, sejam por meio de exemplo de projetos que estarão na feira ou pelos conteúdos que farão parte da grade de palestras do evento.

Sobre

Entrevista publicada na edição de março da revista Téchne.

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