“Eu quero uma casa no campo, onde eu possa ficar do tamanho da paz”. Quem não lembra desses versos cantados pela voz inesquecível de Elis Regina? Tão grande como o encanto proporcionado por essa música, também é o desejo de muitas pessoas em ter uma vida tranquila no interior, principalmente depois da popularização do trabalho remoto. Como esse tema está bastante em alta, resolvi falar hoje sobre algumas dicas para construir uma casa de campo com segurança e qualidade. Depois disso, é só colocar a playlist pra tocar e sonhar com a residência nova em meio à natureza. 

Construção e fundação

Primeiramente, antes de erguer uma casa, é necessário executar a sua fundação, ou seja, a estrutura que servirá de alicerce para a construção. Para garantir a segurança desse trabalho, é preciso conferir as reais condições do local e fazer um cálculo exato da fundação. Do contrário, há o risco do terreno ceder, o imóvel ganhar trincas e rachaduras, ou até mesmo da obra ser totalmente inviabilizada. Já vi casos, por exemplo, que esse trabalho de preparação ficaria mais caro do que montar a casa inteira depois. 

Tome muito cuidado com profissionais que garantem que um determinado terreno é firme, só porque o do vizinho possui estabilidade. Já vi muita gente confiar nessa conversa e ter problemas. Afinal, quem garante que exatamente no seu lado, o solo terá a mesma durabilidade? Meu conselho, é que todos façam uma sondagem do terreno. Dessa forma, uma empresa especializada visitará o local para uma análise técnica, que será baseada em alguns testes para verificar as condições do solo. Depois disso, em cima do relatório gerado, o engenheiro calculista indicará o tamanho correto para a fundação. 

Posição do sol

Um dos primeiros detalhes que eu presto atenção nos projetos, principalmente quando se trata da construção de uma casa de campo, é ver a orientação do sol com relação ao terreno, para então escolher onde ficará cada cômodo. Portanto, eu mapeio tudo! Veja bem, o sol sempre nasce no Leste, dessa forma, a face Norte receberá sol o dia inteiro. Então, eu posso posicionar a área da piscina, da edícula e da churrasqueira nessa região. Mas, será que é bacana por uma cozinha ou um quarto numa face Norte? Afinal, o primeiro cômodo já é mais quente, pois as pessoas cozinham lá, resultando no risco do local virar uma estufa. Com relação ao quarto, nessa mesma situação, os moradores provavelmente terão que gastar dinheiro com ar-condicionado para dormir com frescor.

Já na face Sul, não bate sol o dia inteiro, então imagine colocar uma área de serviço ali? Nunca vai secar a roupa daquela pessoa! Ou, incluir um guarda-roupa no fundo de quarto que pega pouco sol. Não faça isso! É grande o risco de as roupas mofarem lá dentro. Então não é só a construção da casa em si, mas o layout de interiores também precisa acompanhar essas orientações. 

Contudo, não basta somente observar o sol, eu também analiso as direções do vento. Não é só o marinheiro que precisa ficar atento a isso! Por exemplo, uma das casas que fiz no interior de São Paulo, nem precisou de sistema de climatização. Basicamente, nós a posicionamos no lado mais propício e fizemos uma abertura no telhado. Dessa forma, o vento que entra na casa empurra o ar quente, que então sobe e vai embora. Eu criei uma exaustão natural, por isso não foi preciso instalar um ar-condicionado. 

Estrutura e materiais

Quando se fala em construção de casa, também será necessário definir qual será o estilo construtivo. E como em tudo na vida, há o lado bom e ruim em cada escolha. Você prefere alvenaria estrutural? É uma opção mais barata! Vai fazer com pilares, vigas e alvenaria de vedação? Então é uma alternativa mais cara! Quer estrutura metálica? (Tem muita gente fazendo assim, com tudo pré-fabricado) também é mais caro, mas o período de obra acaba sendo mais rápido. Você vai fazer tudo em madeira? É mais rústico e combina bem com o campo. É importante fazer essa análise!

Sustentabilidade

Nos meus projetos, eu sempre busco por soluções sustentáveis, principalmente em casas, por termos mais espaço e liberdade para incluir tais iniciativas. Como no interior é muito ensolarado, é possível fazer o aquecimento da água através da energia fotovoltaica. Outro exemplo é o aproveitamento da chuva, a partir da criação de uma cisterna, principalmente em locais com problemas de abastecimento. Ou, você pode fazer também um poço artesiano, isso é bem comum no campo. Enfim, também gosto quando a casa se torna parte daquele ambiente, quando os moradores têm interação com toda a vida em volta dele, gerando o mínimo de interferência possível. Se você tem uma árvore no meio do terreno, que tal pensar no projeto de forma a destacá-la? 

É bem interessante reaproveitar os materiais do local da obra. Por exemplo, numa das casas que fiz, nós usamos as pedras da escavação para fazer uma escada, que ficou incrível. Como teve uma demolição anterior, eu também recuperei todos aqueles tijolinhos para fazer uma parede repleta de história. 

Mão de obra

A última dica é sobre a mão de obra no interior. Geralmente ela é mais barata do que nas capitais, mas não é uma regra! Especialmente, em algumas cidades que são mais procuradas, como Campinas, Atibaia e Itu, por exemplo. Em muitos casos a mão de obra local acaba sendo mais cara ou escassa em razão da demanda, porque tem muitos condomínios de alto padrão lá, há muita gente construindo ao mesmo tempo, etc. Em situações como essas, aconselho até a chamar prestadores de outras regiões, assim você pode trazer quem você já conhece, garante o quadro de profissionais, além de ter a chance de economizar no serviço. Tais episódios também são muito comuns com casas de praia, mas esse é um assunto que deixarei para um dos próximos artigos. Quer saber mais? Continue nos acompanhando!

Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)

Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT. 

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