O Congresso Brasileiro do Concreto – edição Jubileu de Ouro, realizado de 11 a 14 de outubro, em Brasília, que contou com a presença de cerca de 900 participantes, colocou em pauta importantes assuntos e firmou compromissos para o futuro da construção.
O Congresso teve como tema a “Sustentabilidade do Concreto em Defesa do Planeta” e celebrou o Jubileu de Ouro do Instituto Brasileiro do Concreto, associação de profissionais e empresas que, há cinquenta anos, estimula e dissemina o conhecimento científico e tecnológico sobre o concreto.
Na cerimônia de abertura, foi apresentada a Declaração IBRACON sobre a Sustentabilidade do Concreto, por meio da qual o Instituto alinha-se aos movimentos internacionais em defesa da responsabilidade do setor em atender às metas estabelecidas no Acordo de Paris. O presidente do IBRACON, Prof. Paulo Helene, correlacionando a invenção e o desenvolvimento do concreto moderno com o avanço da infraestrutura e das edificações em nível global, concluiu que a produção e consumo de concreto por um país é um importante indutor de seu desenvolvimento econômico e social.
“Mas estamos conscientes do problema ambiental e saberemos dialogar para encontrar o melhor caminho, sempre com base na ciência, na tecnologia e na boa engenharia de concreto”, ressaltou.
Helene destacou ainda o fato de o Brasil possuir a indústria de cimento mais ecoeficiente do planeta, que, a partir de uma matriz energética limpa e aliada ao conhecimento técnico-científico e importantes iniciativas da engenharia nacional, serão capazes de produzir o concreto mais sustentável do planeta.
Na cerimônia foram assinados dois importantes acordos de cooperação com duas entidades voltadas ao tema da sustentabilidade no ambiente construído. No contexto nacional, com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), representado no ato do acordo pelo presidente, Prof. Vahan Agopyan. No contexto internacional, com o GLOBE – Consenso Global sobre o Ambiente Construído, representando por seu presidente, Prof. Michael Faber, que, inclusive, foi palestrante no Seminário de Sustentabilidade, que apontou os caminhos, meios e ferramentas para atingir as metas do Acordo de Paris e da COP 21.
“Pretendemos reunir todos os representantes da cadeia do concreto no Conselho de Sustentabilidade, que atuará tecnicamente, de forma autônoma, para levantar recursos e dados, fazer estudos, propor recomendações e elaborar projetos para a modelagem dos cenários”, propôs, ao final do Seminário de Sustentabilidade, o coordenador do Comitê Técnico IBRACON/ABECE/ABCIC de Sustentabilidade do Concreto (CT 101 do IBRACON), Eng. Carlos Massucato.
Além deste, houve outros 13 seminários que integraram a programação do Congresso Brasileiro do Concreto, contemplando temas transversais ao da sustentabilidade, como infraestrutura, saneamento, industrialização (pré-moldados de concreto), novas tecnologias, durabilidade, entre outros.
Inovações tecnológicas e estratégias para sustentabilidade
As soluções tecnológicas disponíveis para mitigar emissões de carbono focaram sobretudo na redução das emissões do concreto, no aumento da durabilidade das estruturas e na redução das intervenções de manutenção.
O presidente da Federação Internacional do Concreto Estrutural (fib), Akio Kasuga, expôs a plataforma em desenvolvimento de indicadores para a análise do ciclo de vida (ACV) e como diferentes aspectos da sustentabilidade estão sendo incorporados no Código Modelo fib 2020, a ser lançado no ano que vem, destacando principalmente as diretrizes relacionadas com a durabilidade do concreto e circularidade das estruturas de concreto (demolição e reuso).
Como vice-presidente da Sumitomo Mitsui, uma das mais importantes construtoras asiáticas, o Eng. Kasuga apresentou aplicações de um concreto estrutural com “zero cimento”, isto é, cimento sem clínquer, componente responsável pelo grosso das emissões de dióxido de carbono. Ele apresentou também elementos pré-moldados sem armadura convencional, com fibras e protensão, com custo de duas e quatro vezes menor de manutenção, para aplicações em pontes. Destacou se tratarem de soluções em pequena escala, de custo elevado, mas já aplicadas, decorrentes de pesquisas realizadas pela empresa, mas necessárias, em razão da pressão crescente dos contratantes, investidores e agentes de financiamento em função da monetização das emissões de CO2 .
Complementando sua atuação no Congresso, Akio Kasuga participou ainda do Seminário de Estruturas Pré-Moldadas de Concreto, realizado no dia 12 de outubro, pois a industrialização é uma das estratégias da construtora, que atua em obras habitacionais, imobiliárias e de infraestrutura.
O presidente da União Internacional dos Laboratórios e Especialistas em Materiais Construtivos e Sistemas Estruturais (RILEM), Ravindra Gettu, apresentou as vantagens sustentáveis do concreto feito com o cimento ternário. Este cimento substitui o clínquer, principal composto do cimento e responsável por 60% das emissões de carbono no processo de fabricação do cimento, por materiais cimentícios suplementares (cinzas volantes, escórias de alta forno e fíler calcário), reduzindo substancialmente a emissão de carbono.
Segundo Gettu, as adições promovem uma microestrutura menos porosa do concreto, dificultando a difusão de cloretos do ambiente para dentro das peças, o que prolonga o tempo para que esses cloretos atinjam as armaduras no interior das peças e, por conseguinte, aumenta sua durabilidade, apesar de promoverem maior carbonatação, o que também favorece à captação e retenção dos gases de efeito estufa.
O presidente do Instituto Americano do Concreto (ACI), Charles Nmai, defendeu também o uso de cimentos compostos para reduzir a pegada carbono das estruturas de concreto, mas sobretudo decisões de dosagens do concreto baseadas no custo do ciclo de vida, ao invés do custo inicial, bem como em requisitos de desempenho, ao invés de especificações prescritivas.
Segundo ele, as tecnologias para sustentabilidade estão disponíveis – agregados reciclados e combinação de vários aglomerantes – citando o One World Trade Center e o 432 Park Ave, em Nova York, como exemplos.
Em comum, as três palestras magnas, que abriram os três dias do Congresso, trouxeram a importância da descarbonização por meio do uso de materiais à base do concreto armado, cimento e aço, a importância da análise do ciclo de vida, o avanço da tecnologia do concreto, a importância dos concretos de alto desempenho e a durabilidade como aspecto chave para a sustentabilidade no setor.
Pavimentos de concreto como solução sustentável
Por durar mais e requerer menos manutenção, o pavimento de concreto tem sido uma solução técnica e econômica cada vez mais demandada por agentes públicos e privados para pavimentação de rodovias e vias urbanas.
O assunto foi debatido no Seminário de Infraestrutura, no dia 12 de outubro, que contou com palestra do diretor de planejamento e pesquisa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), Luiz Guilherme Rodrigues de Mello.
Para alavancar ainda mais esta solução sustentável, uma vez que a durabilidade é uma chave para a sustentabilidade, o IBRACON, como testemunha, acompanhou o DNIT e a ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland, que assinaram, por ocasião do Congresso, um Acordo de Cooperação Técnica que prevê realizar estudos sobre métodos de dimensionamento de pavimentos de concreto para rodovias, atualizar especificações técnicas e propor novas normas para promover melhores práticas e a capacitação profissional.
“É uma satisfação enorme termos a oportunidade de firmar um convênio entre a ABCP e o DNIT no sentido de oferecer o concreto como mais uma opção para pavimento de estradas. É a certeza de que no futuro teremos muito mais quilômetros de estradas em concreto”, declarou o presidente do IBRACON, Prof. Paulo Helene na ocasião da assinatura.
O Seminário discutiu também a previsão de investimentos para os setores de transporte rodoviário, ferroviário, portuário e aeroportuário, além dos investimentos em obras de saneamento e energia, para os próximos anos.
O IBRACON contribuiu, por meio dos seus Comitês Técnicos: Comitê de Pavimentos de Concreto (CT 306) e do Comitê do uso de materiais não convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto Reforçado com Fibras (CT 303), com a elaboração da PR 1011 Projeto de pavimentos urbanos em concreto, prática recomendada da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), lançada em novembro de 2021, que traz os requisitos e procedimentos para o projeto de pavimentos de concreto simples e reforçados com armaduras ou fibras, moldados no local. Este documento normativo foi apresentado no Seminário sobre Pavimentos de Concreto, no dia 14 de outubro.
Obras de saneamento duráveis
No Seminário Concreto aplicado ao Saneamento Básico, realizado no dia 14 de outubro, a ênfase foi melhorar a qualidade e durabilidade das obras por meio de práticas recomendadas e normalização para projeto e execução de obras de concreto para saneamento.
A gestora de qualidade da SABESP, Enga. Silvia Benites, foi enfática: “Precisamos de práticas recomendadas para que os investimentos em obras de saneamento tenham durabilidade, para que as obras entregues hoje não necessitem ser recuperadas em 2033”.
2033 é o prazo final das metas para universalização dos serviços de acesso à água potável e a coleta e tratamento de esgoto no novo Marco Legal do Saneamento.
No Seminário foram debatidos os fatores que podem estar causando a deterioração precoce das obras de saneamento e o que deve ser feito para evitar sua instauração ou para remediar as manifestações patológicas.
O Comitê Técnico de Aplicações do Concreto para Obras de Saneamento Básico (CT 901 do IBRACON) vem realizando reuniões desde maio de 2021 para organizar grupos de trabalho para a produção de práticas recomendadas para o setor. Até o momento, dois grupos de trabalho foram formados: de projeto estrutural e de aspectos construtivos, produzindo resultados parciais para a prática recomendada.
“A prática recomendada vai fornecer ao setor de saneamento subsídios técnicos para que as obras dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário sejam executadas, sob a ótica do concreto, com a melhor qualidade”, esclareceu Vinícius Caruso, coordenador do CT 901 e do Seminário.
Números gerais
Durante o Congresso Brasileiro do Concreto foram apresentados 287 trabalhos realizados por pesquisadores de universidades e empresas brasileiras de todas as regiões do país.
Essas pesquisas abordaram temas, tais como: materiais e suas propriedades; dosagem de concretos e argamassas; análise e projeto de estruturas de concreto e mistas; proteção contra incêndio; durabilidade e sustentabilidade; inspeção, diagnóstico, recuperação, proteção e reforço de estruturas; estruturas pré-fabricadas; métodos construtivos e gestão de obras.
Além disso, foram realizados três cursos, quatro lançamentos editoriais, com sessões de autógrafos com autores, cinco concursos estudantis e 49 premiações de profissionais que têm se destacado na engenharia do concreto e de estudantes de pós-graduação, mostrando a pujança do Instituto e do setor.
A Feira Brasileira da Construção em Concreto – Feibracon reuniu 10 patrocinadores e 15 expositores.