O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek, que liga o Tocantins ao Maranhão, não foi um evento inesperado. Na verdade, trata-se de mais um episódio previsível, resultado da negligência com a manutenção das infraestruturas viárias no Brasil. A tragédia é um reflexo claro dos riscos enfrentados por pontes e viadutos no país, cujos problemas estruturais, muitas vezes ignorados, acabam se transformando em desastres.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) já tinha conhecimento das condições críticas dessa ponte. Um relatório técnico de 2020 apontava rachaduras, inclinação dos pilares e deterioração do concreto, evidenciando a necessidade urgente de reforço e recuperação. No entanto, como ocorre com muitas outras infraestruturas no Brasil, as medidas preventivas foram negligenciadas, resultando em uma tragédia humana e econômica.
Segundo o Ministério Público, mais de 727 pontes administradas pelo DNIT estão em condições críticas, representando quase 13% das 6 mil pontes federais no Brasil. A Ponte JK, inaugurada em 1961, passou por manutenções pontuais ao longo das décadas, mas nenhuma delas abordou de forma definitiva os problemas estruturais identificados no relatório de 2020. Fissuras nos pilares, exposição de armaduras e deslocamento de elementos estruturais essenciais para a estabilidade da obra eram sinais claros de perigo iminente.
Hoje, tecnologias que poderiam ter evitado essa tragédia já estão disponíveis. Sistemas de monitoramento estrutural em tempo real, aplicados com sucesso em pontes de países como Japão e Alemanha, analisam vibrações e deformações, permitindo intervenções preventivas antes que pequenos problemas se tornem desastres. Contudo, o investimento em inovação e manutenção contínua ainda não é prioridade nas políticas públicas brasileiras.
O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek deve servir como um alerta definitivo. A adoção de medidas eficazes de monitoramento e recuperação das infraestruturas é urgente. Sem um compromisso sério com a manutenção preventiva, continuaremos a lamentar perdas humanas e financeiras causadas pela irresponsabilidade e falta de planejamento adequado.
Por Ladimir Kriiger Júnior, Engenheiro Civil