Se em algumas situações o cinza já soou como uma cor apagada e sem graça, a mesma conceituação não se aplica para a arquitetura de interiores. Seja nos projetos residenciais, como também nos corporativos, o cinza alçou a posição de tendência para fixar sua presença permanente, e de uma vez por todas, como opção moderna e atemporal para a aplicação em diferentes estilos decorativos.
Considerada como uma cor neutra, o cinza se enquadra muitíssimo bem em propostas mais sofisticadas, combinando com tonalidades mais quentes, como também abre frente para a realização de ambientes despojados, porém sem excessos. Além de expressar uma frequência mais clean, o cinza simplifica as possibilidades de planejamento. Em doses coerentes, o cinza contribui para promover o aconchego dentro de ambientes frios ou mais claros.
No quesito praticidade, ele atribui outra significativa vantagem: ‘esconder’ a sujeira. Ele não deixa as indicações tão aparentes e, para quem tem pets que soltam muito pelo, é uma perfeita opção para auxiliar a necessidade de manutenção. Junto com esses atributos já relacionados, os tons de cinza trazem estabilidade para a rotina diária e podem, segundo o Feng Shui, auxiliar em relações pessoais.
O que a cor cinza pode expressar na composição de um projeto?
Na escala cromática, o cinza se encaixa em uma disposição intermediária entre o branco e o preto. Apesar de não ser uma das escolhas mais populares, transfere para o ambiente sutileza, versatilidade e elegância. As tonalidades podem contribuir de várias formas para o projeto de interiores – seja com uma essência positiva ou negativa.
O cinza entrega sensações aconchegantes quando utilizado em lugares claros. Por outro lado, quando aplicado demasiadamente em tons mais escuros, pode transformar o décor em uma atmosfera mais reclusa. Assim como o branco representa a paz no ocidente e morte no oriente, o cinza manifesta uma dualidade interessante e que precisa de cuidado e atenção. Dependendo da proporção aplicada em um ambiente e à questão cultural do morador, a cor transmitirá frequências diferentes.
E as melhores combinações?
O cinza tem a facilidade de determinar composições muito criativas. De acordo com o arquiteto, a tonalidade conversa muito bem com o preto e gradientes de amadeirados. O próprio branco – muitas vezes compreendido como ausência de cor –, quando combinado com nuances mais claros de cinza, abre um efeito interessante. Gosto muito de lançar mão do cinza bem clarinho em paredes com forro de gesso e rodapés brancos.
Em quais estilos de decoração podemos incluir o cinza?
O cinza marca presença em todos os estilos decorativos, entretanto, no industrial ele é hors concours. A cor é presença certa em lajes aparentes, vigas e pilares em concreto armado, além do piso em cimento. Um dos benefícios do cinza, como já citamos aqui, é a sua neutralidade e simplicidade para conciliar com outros elementos. No passado, a cor estava fortemente atrelada aos estilos arquitetônicos que usavam e abusavam do concreto, como o Modernismo e o Brutalismo. Todavia, levando em consideração que algumas modas sempre voltam e se renovam, hoje consideramos o cinza como uma cor de equilíbrio nos ambientes.
Como o cinza contribui para a leveza de um ambiente?
A resposta é: de inúmeras formas! As tonalidades mais claras são mais empregadas quando a proposta do ambiente foi a de exteriorizar a leveza. É claro que, com tons mais escuros é necessário cuidado: a recomendação é que eles apareçam pouco e sejam combinados com tons mais claros, criando um perfeito equilíbrio entre eles. Sempre recomendo trabalhar com a técnica de ter tonalidades próximas, como um ‘tom sobre tom’, gerando contraste entre mais claros e escuros. Dependendo da proposta, quando queremos criar ambientes mais sóbrios, predominamos a cor. Em contrapartida, em ambientes mais vivos, preciso entrar com outra cor como destaque e deixar o cinza como um pano de fundo.
Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)
Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT.