Por Renato Batista, CEO da Netglobe, empresa especializada em soluções para a conexão

Em que momento você conheceu histórias pessoais de seus companheiros de empresa? Como desenvolveu abertura e intimidade com essas pessoas? Se essas perguntas fossem feitas a profissionais no Brasil, as respostas mais frequentes provavelmente abordariam momentos de descanso ou lazer – a hora do cafezinho, almoço ou festas de fim de ano, por exemplo. Desde 2020, porém, tornou-se inimaginável um ambiente em que todos os colaboradores de uma empresa desenvolvem suas atividades e têm espaço para interagir. A necessidade de distanciamento social em função da pandemia acelerou uma revisão nos modelos de trabalho, e uma das consequências disso foi uma mudança na estrutura física das empresas. O escritório que nós conhecíamos morreu, já é seguro dizer.

Mas o que significa a “morte” de um espaço físico? A expressão hiperbólica remete a uma mudança drástica de conceito. Se outros locais seguem a mesma lógica há séculos, a despeito de toda a evolução tecnológica no período, os escritórios passaram por diferentes modelos desde o século 19, alinhados com uma busca constante por mais eficiência nos processos.

Até as primeiras décadas do século 20, prevalecia no ambiente corporativo o modelo taylorista, inspirado nas ideias do engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor. A premissa era um ambiente amplo, com pé direito alto e muita luminosidade, em que os superiores eram alocados em balcões no andar superior.

O distanciamento entre esferas hierárquicas foi sendo gradativamente reduzido nas décadas seguintes, o que popularizou um modelo mais aberto. Essa lógica prevaleceu até os anos 1960, quando começaram a surgir os “cubículos”, espaços pequenos e individualizados, baseados em divisórias com pelo menos 1,80m de altura. Foi o período famoso pelas baias do designer Robert Prost para a Herman Miller – espaços flexíveis, que podiam ser redefinidos a cada mudança no escritório – em contraste com salas de reuniões espaçosas, com mesas capazes de acomodar grandes grupos.

Nos anos 1980, a AT&T foi precursora de uma mudança conceitual por ter apostado em escritórios com pé direito mais alto e por ter incluído funcionalidades para seus colaboradores – academia e espaços para alimentação, por exemplo. A proposta era tornar o ambiente mais aprazível para pessoas que moravam nas periferias e buscavam praticidade para seu dia a dia.

Durante praticamente um século, portanto, as mudanças estruturais mais significativas que aconteceram em escritórios foram relacionadas à definição dos espaços individuais ou à adição de serviços que facilitassem a vida dos trabalhadores. Isso não afetou a dinâmica de trabalho ou as interações nesses ambientes.

A partir dos anos 2000, com a consolidação dos computadores pessoais e a popularização da internet, algumas empresas começaram a implementar políticas de home office. E em 2005, nos Estados Unidos, um engenheiro de software chamado Brad Neuberg criou a primeira versão do coworking, modelo em que profissionais autônomos podiam alugar espaços privados ou compartilhados.

A conexão diminuiu limites geográficos e conferiu agilidade a projetos que envolviam pessoas de diferentes localizações. Isso contribuiu para que algumas empresas começassem a discutir modelos de trabalho híbrido ou remoto, mas esse debate ganhou corpo com a pandemia. Quando as pessoas tiveram de se distanciar e os escritórios passaram a ser inviáveis, companhias foram obrigadas a testar limites da tecnologia e entender como dar eficiência a projetos descentralizados.

Esse movimento coincidiu com um salto tecnológico em direção ao metaverso, com uma redefinição do que é a experiência 100% presencial. E mesmo no período em que os números da pandemia arrefeceram, o que se viu foi que empresas não voltaram ao modelo que adotavam anteriormente. Companhias como Google e Microsoft já anunciaram que vão adotar globalmente um formato de trabalho híbrido, independentemente do futuro do combate ao coronavírus. Segundo pesquisa da KayoCloud, mais de 80% das empresas dos Estados Unidos cogitam oferecer a seus colaboradores uma jornada híbrida, com até três dias de home office por semana.

A realidade, portanto, é que dificilmente a ocupação dos escritórios voltará a ser o que era antes da pandemia. É por isso que muitas empresas já têm investido em ferramentas para que seus colaboradores possam reservar posições para trabalho presencial. As salas de reunião, que antes eram espaçosas e em número pequeno, passaram a ser locais para calls e conversas reservadas. Algumas companhias já investiram em uma nova lógica interna, aumentando o número desses espaços e reduzindo seu tamanho. Outras têm buscado formas de não perder os espaços de interação entre seus colaboradores. Houve apostas em modelos como salas virtuais para o café ou o happy hour, por exemplo.

Entre todas essas possibilidades, o fato é que o escritório que existia até o início de 2020 simplesmente não tem mais razão de ser. A realidade é que empresas estão em busca de um modelo cada vez mais conectado, online e descentralizado. Você está pronto para isso?

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