Na arquitetura, trabalhamos com diversos materiais, como concreto, tijolo, vidro etc., para criarmos um lar ou espaço corporativo. Porém, para termos um projeto realmente bem concebido é preciso levar em conta vários fatores de cunho natural, ou seja, proporcionados pelo meio ambiente. Entre eles, um dos mais importantes é a iluminação, que desempenha um papel essencial não só para o ambiente, mas também para a nossa saúde. Infelizmente, não é sempre que o imóvel recebe uma boa dose de luz solar e, por isso, darei algumas dicas de como elaborar um projeto luminotécnico, pensando especialmente nos locais com pouca luminosidade.

A baixa incidência de luz é um problema para a arquitetura e decoração, mas, sobretudo, para a saúde dos moradores. Então, antes de mais nada, recomendo que se analise cuidadosamente os prós e contras de uma estrutura que não conta com um bom nível de iluminação natural, pois é ela que proporciona a vitamina D. Além disso, onde há falta de luz, geralmente há falta de ventilação: poucas janelas são sinônimo de pouca troca de ar, o que acarreta uma nova série de complicações.

Após levar tudo isso em consideração, há algumas técnicas que nos ajudam a criar a sensação de iluminação natural usando recursos artificiais, a partir de cenários que exploram efeitos de luz e sombra. Quando falamos da luz do sol, e temos como ideia reproduzi-la, um bom caminho é optar por lâmpadas de 2.700 a 3.000 kelvins, que oferecem aquela iluminação amarelada do amanhecer e fim de tarde – uma das tonalidades mais aconchegantes, que incita acolhimento e descanso.

Outro ponto importante a se explorar nesse contexto é o Índice de Reprodução de Cor (IRC). A claridade natural reproduz fielmente a coloração dos elementos, portanto, um objeto que é amarelo, aparecerá amarelo sob o sol. Já com lâmpadas artificiais, o caso pode ser não ser o mesmo: uma camiseta azul escuro potencialmente será vista como preta, dependendo do tipo de luminosidade e seu IRC.

Sendo assim, é interessante se atentar nesse quesito na hora de compensar a iluminação solar dentro de um ambiente, buscando um cenário mais próximo do natural possível. Um IRC acima de 90% já garante uma boa reprodução. Mas vale ressaltar que essa versão mais “forte” não precisa ser a eleita para todos os cômodos – ela faz mais sentido em espaços com roupas, maquiagens e comidas.

A luz difusa, que acabei de abordar, e a luz focada são elementos que eu invisto muito nos meus projetos. A combinação desses dois recursos é ideal para criar cenários, permitindo com que os moradores tenham um mix de conforto e praticidade. Por exemplo: uma luminária que é perfeita para instigar uma sensação de aconchego para ler um livro, assistir um filme ou ter um jantar romântico. Enquanto isso, a luz difusa permanece como opção, seja para se arrumar, preparar refeições ou outras tarefas mais ‘alertas’.

Por fim, a dica fundamental que eu sempre aconselho é idealizar o projeto luminotécnico considerando o ciclo circadiano, o ritmo natural em que um organismo (incluindo os seres humanos) realiza suas funções e atividades durante as 24 horas do dia – e a luz é o que exerce a maior influência nesse ciclo. Desde o nascer do sol, com a luminosidade mais amarelada e suave, até a tarde, que traz uma sensação mais alerta, e a noite, na qual a escuridão incentiva o descanso.

Hoje, existem sistemas de automação que imitam exatamente as fases do dia, mas, para quem não quer ir tão longe, basta apostar em iluminações que conversam com a finalidade de cada área da casa. Para um espaço de descanso, como um quarto, o interessante é elaborar um cenário que incentive justamente isso: relaxamento e repouso. O mesmo vale para uma sala de estar ou jantar, que são pontos de encontro da família para descontrair. Agora, em locais de trabalho, exercício físico e afazeres domésticos, a claridade – do tipo bem forte e azulada (que se assemelha ao período da tarde no ciclo circadiano) – é extremamente benéfica e conduz a atividade que pautou o cômodo.

Por isso, por exemplo, não faz sentido trabalhar em uma área com pouca luz, que causará sono e cansaço, ou dormir em um ambiente bastante claro, incentivando um estado de alerta.

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Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)

Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT.

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