Todo início de projeto é um momento de entusiasmo. O cliente geralmente tem muitas ideias, mas que nem sempre poderão ser realizadas da forma pensada, com base no orçamento real. Por isso que é importante uma série de cuidados antes, durante e depois da obra, para que as expectativas sejam alcançadas, sem prejudicar o bolso. Hoje, vamos falar sobre isso e exemplificar com algumas dicas úteis.
Abrindo o jogo
Uma recomendação essencial é saber desde o princípio qual é o budget do cliente, o quanto ele está disposto a gastar naquela obra específica. Afinal, como adivinhar se iremos ultrapassar ou não o valor se ele não tem essa liberdade com o escritório de arquitetura que está contratando? É lógico que no final de todo o processo, o cliente vai acabar abrindo o quanto ele pretendia gastar. Porém, se isso for compartilhado desde o início, as chances de não estourar o orçamento são bem maiores. Dessa forma, os profissionais de arquitetura irão trabalhar em cima do budget certo, de forma mais assertiva, modelando o projeto e as condições de obra com base no valor estipulado.
Projeto detalhado
Quando os futuros clientes ligam para montar um orçamento de projeto, eu faço questão de conversar com eles, pois geralmente eles estão com propostas de outros escritórios também, o que causa uma confusão muito grande. Muitas pessoas entendem que o projeto de arquitetura pode ser somente um layout com imagem 3D. Porém, quando isso vai parar na obra propriamente dita, não há informações suficientes para seguir. Tenho uma situação recente, em que um cliente nos contratou somente para executar a obra, mas o projeto veio de outro escritório. O problema é que faltavam várias informações importantes para realizarmos um trabalho adequado. Assim, tivemos que fazer um complemento desse projeto para o cliente, pois não tinham dados essenciais sobre a luminotécnica, por exemplo.
Assim, para quem quer manter o orçamento sob controle, é importantíssimo executar uma obra com todas as especificações. É como uma receita de bolo, em que ingredientes ou dose diferentes podem mudar completamente a receita. Por isso, analise bem o escritório que você está contratando, pois a qualidade e transparência do projeto irá determinar os seus gastos futuros, o famoso “o barato pode sair caro”.
Planejamento
Um bom planejamento é a base para um projeto mais econômico. Nessa fase não se pode ter pressa, pois isso se refletirá em atrasos no futuro. É preciso listar com cuidado todos os itens que vão compor o trabalho. Para se ter uma ideia, no meu escritório levamos quase metade do mês apenas montando o planejamento para o início das obras. Então, levantamos item por item do que será executado. Por exemplo, se for preciso quebrar a parede da cozinha, então temos que considerar: quantos metros serão quebrados? quantos sacos de entulho teremos que comprar? qual o tamanho de caçamba necessária para recolher os entulhos? Portanto, você pode até ficar 15 dias para realizar um planejamento bem feito, mas lá na frente, ao invés da sua obra demorar oito meses, é possível reduzir para a metade do tempo, se tudo for planejado.
Inclusive, a parte da decoração, vista como o momento final do processo, a “cereja do bolo”, também precisa ser pensada bem antes. Desde a colocação de um tapete até a compra um vaso decorativo, tudo precisa ser listado com os valores certos. Para que no final, o caixa seja suficiente para pagar tudo. Por isso, é importante que você contrate um escritório que tenha essa expertise para montar um planejamento de fluxo de caixa e de cronograma para a sua obra.
Cronograma bem definido
Antes de iniciarmos o trabalho, é essencial ter um cronograma e saber o que vai acontecer em cada dia da obra. Portanto, não adianta calcular “por cima” quando ocorrerá cada atividade, pois isso vai gerar atrasos na certa. Se temos prevista a entrega do piso para o dia 3, mas só foi entregue no dia 5, então temos dois dias de atraso. E, aonde eu consigo ganhar dois dias no cronograma agora? Como podemos minimizar isso? Quanto maior o atraso, maior o gasto.
Imagine que o cliente possa estar morando em outro imóvel temporariamente, enquanto a obra ocorre, ou então ele ainda está no antigo imóvel dele. Portanto, ele pode estar pagando aluguel e condomínio dobrado nesse período. Além disso, quanto mais tempo passar, maior será o gasto com honorários dos profissionais, com o gerenciamento da obra, com contas de água, luz, etc. Enfim, estourar o cronograma significa prejuízo financeiro também.
Nós montamos todos os cronogramas do nosso escritório no Project, que é uma ferramenta do Microsoft Office muito útil. Dessa forma, compartilhamos com os clientes toda semana o que está acontecendo. Assim, se houver algum atraso, eles estarão cientes disso. Inclusive, o programa faz uma simulação dos próximos passos até o final da obra, com base nas mudanças e imprevistos ocorridos durante o processo, o que ajuda muito na visualização final.
Gerenciamento de Obra
A falta de gerenciamento e fiscalização é uma reclamação constante dos clientes. Um dos casos mais comuns ocorre quando o pedreiro ou pintor costuma pedir repetidamente para comprar os materiais necessários, ao invés de solicitar tudo de uma vez, por meio da organização de sua equipe. Se o gerenciamento tivesse sido feito, com certeza esse tipo de incômodo não chegaria até o cliente. Agora, possivelmente ele terá que ir várias vezes até a loja de material de construção, ou agendar mais entregas até o endereço da obra, com fretes mais altos, gerando gastos de tempo e dinheiro. Além disso, é importante comparar os preços dos materiais em diferentes lojas antes de sair comprando na correria. Ainda mais no cenário atual, em que houve aumento em diversos itens.
Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)
Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT.