Para iniciar a minha primeira conversa com vocês, onde vamos falar sobre espaços compactos muito bem aproveitados, nada melhor do que observar a mudança dos espaços ao longo do tempo.

No início do século passado, observamos o início da verticalização em São Paulo com edifícios comerciais que são ícones até hoje, como o Edifício Guinle (1912) e o Edifício Martinelli (1929). Mas foi na década de 1930 que os edifícios começaram a englobar a função residencial. O centro de São Paulo concentrava grande parte das atividades econômicas da cidade e viu-se uma oportunidade de multiplicar o solo urbano – e o lucro sobre ele.

Em geral, os condomínios tinham traços art deco, o que era conveniente pela redução e simplificação dos ornamentos das fachadas. Era usual a presença de lojas nos térreos, coroadas por marquises que as separavam do corpo do edifício, que no mesmo andar abrigavam diferentes tipologias de plantas, de modo a testar o mercado de apartamentos residenciais em nascimento e claro, para aproveitar ao máximo a ocupação do terreno. Atualmente, vemos uma tendência de separar as tipologias de apartamentos em diferentes blocos, torres e, às vezes, até em diferentes condomínios no mesmo terreno – para, por exemplo, separar o público de estúdios pequenos e apartamentos para famílias maiores.

Em 1928 foi promulgada a lei que institucionaliza os condomínios, e que permitiu a venda de unidades dentro de um edifício – antes disso os edifícios eram de apenas um dono, e as unidades eram alugadas, ou seja, os edifícios eram investimento para renda de poucos e muito muito ricos. Mas foi só com a lei do inquilinato, que congelou os valores de aluguel, em 1942, que percebemos a crescente venda de apartamentos, mais parecida com o que conhecemos hoje. Uma vez que o aluguel já não era um bom investimento como antes, passou-se a comercializar as unidades habitacionais, que pelo valor do investimento, era possível apenas para famílias de classe média mais abastada. Então, o que aconteceu? Os incorporadores focaram nessa classe: aumentaram os padrões de acabamento e adequaram os tamanhos e distribuições dos cômodos para atrair esses compradores.

Ainda nos anos 50 e 60, era mais comum que essas famílias desejassem viver em casas – havia uma resistência contra os apartamentos, um certo preconceito e associação com os cortiços. Para diminuir essa barreira inicial, a maioria dos apartamentos eram de dimensões generosas, com cozinhas, quartos e salas grandes, áreas de serviço boas, com quarto e banheiro de serviço, vindo da cultura de “casa grande e senzala” que nos acompanha ainda nos dias de hoje. Os pés-direitos também eram altos e as janelas feitas sob medida, com amplos panos de vidro, reflexo da influência modernista. Esses apartamentos viraram um símbolo da São Paulo moderna e instigaram a vida em condomínios verticais na capital.

A partir da década de 70, começamos a observar uma redução gradual nos tamanhos dos apartamentos. À medida que a concentração demográfica nos grandes centros aumentava, a verticalização tornou-se mais intensa, e ao longo dos anos, a super valorização imobiliária e alterações nos planos diretores refletiram em apartamentos cada vez menores – também para caber no orçamento das famílias. O tamanho médio dos apartamentos de 2 quartos era de 100 m², eles mantinham quartos e banheiros amplos (com os polêmicos bidês), tendo a suíte quase o mesmo tamanho da sala. Permanece também o quarto e banheiro da empregada e as entradas social e de serviço separadas. A cozinha e áreas de serviço apresentam-se menores e os pés direitos já não são tão generosos, as janelas são reduzidas em função das disseminação das esquadrias pré-fabricadas. Nessa época, os condomínios começaram a ter mais áreas comuns, como piscinas, quadras e jardins.

Nos anos 80, observamos mais uma redução no pé-direito, que ficou semelhante aos padrões atuais e todos os ambientes são bastante reduzidos. Os conceitos de “closet” e “home theater” surgiram nessa época, muitas vezes tendo o espaço de um terceiro quarto destinado a um desses usos. A preocupação com as áreas de lazer do prédio cresce à medida que os apartamentos diminuem.

Daqui em diante, falaremos no próximo artigo!

Júlia Guadix (@studioguadix)

A arquiteta possui dezenas de projetos de reforma realizados, trazendo em seu trabalho um estilo simples, acolhedor e atemporal utilizando elementos como madeira, tijolo, cimento queimado, plantas, tons neutros com pontos de cores para proporcionar conforto e modernidade aos seus clientes.

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