Vamos continuar a nossa conversa sobre a mudança dos espaços (confiram meu artigo anterior, que aborda até a década de 1980). Na década de 1990, é cada vez mais raro ver plantas com dependências de empregada e torna-se comum o apartamento ter apenas uma entrada. Os cômodos seguem sendo reduzidos e frequentemente aparecem cantos chanfrados nos apartamentos, recurso que marcou as fachadas da época e dificultou a distribuição dos móveis prontos. Lembram daqueles planejados em pau marfim? Dessa época também. Nesta década também tivemos a disseminação dos computadores pessoais e começamos a destinar um espaço nas casas para o nosso querido “home office”.
Nos anos 2000, o tamanho dos apartamentos segue semelhante à década anterior (em torno de 73m² para imóveis de 2 quartos) mas vemos as varandas ganhando mais importância, elas começam a agregar uma churrasqueira e, na década seguinte, são consolidadas como objeto de desejo. Mas isso não foi por acaso: em 2002, o plano diretor de São Paulo foi alterado, o coeficiente de aproveitamento diminuiu e foi definido que áreas sem fechamento, vagas de garagem e áreas comuns não computavam o potencial construtivo do terreno. O que observamos desde então é o crescimento e multiplicação das famosas “varandas gourmet”, o surgimento das “varandas de serviço” (que nada mais é do que a área de serviço entregue sem janelas) e a multiplicação dos espaços de lazer do prédio, para compensar os ambientes espremidos das unidades residenciais. Brinquedoteca, cinema, salões de festa, salões de jogos, salão de beleza, sala de massagem, academias modernas, etc. Foi na década de 2010 que surgiu o conceito de “condomínio resort”. Tudo isso veio da estratégia das construtoras para entregar o maior apartamento possível dentro das normas construtivas da cidade.
Vimos se multiplicarem nos últimos anos os lançamentos de apartamentos do tipo “studio”, com metragens de 40 a até 18m²! Nestes casos, vemos condomínios com lavanderias coletivas e serviços “pay per use”, numa tentativa de transformar o condomínio quase que em um flat mais “cool”. Os salões de festas agora são produzidos como áreas descoladas para receber amigos (mesmo sem ocasião de festa), áreas como coworkings também são comuns, a ideia é que as áreas comuns sejam muito utilizadas como uma extensão da casa das pessoas, para que seja possível vender unidades tão pequenas a preços tão altos. Quanto mais atraentes as áreas comuns, maior a distração da pouca área dos apartamentos e do preço por metro quadrado mais alto da história.
Durante os meses mais críticos da pandemia do covid-19, houve um movimento em busca de imóveis maiores, casas e até mudanças para cidades menores. Ainda é cedo para saber se essa tendência vai se manter no mundo pós pandemia. Mas o que fica ainda mais claro para mim neste momento é como nosso trabalho de arquitetos e designer de interiores é fundamental para a qualidade de vida das pessoas. Fazer reformas e interiores nunca foi o campo mais valorizado da arquitetura, mas, para mim, não há satisfação maior do que, independentemente do tamanho do imóvel, tornar o dia a dia das pessoas mais prático e leve transformando os ambientes em que elas vivem! – Não à toa o meu lema é transformar a sua casa no seu lugar favorito no mundo!
Júlia Guadix (@studioguadix)
A arquiteta possui dezenas de projetos de reforma realizados, trazendo em seu trabalho um estilo simples, acolhedor e atemporal utilizando elementos como madeira, tijolo, cimento queimado, plantas, tons neutros com pontos de cores para proporcionar conforto e modernidade aos seus clientes.