Finalmente as estações mais quentes do ano estão de volta, a Primavera e o Verão! E junto com elas, também os preparativos para aproveitar as férias de fim de ano. E quem não deseja ficar com o pé na areia? Um sonho de muitas pessoas é ter uma casa ou apartamento na praia, em razão de um maior contato com a natureza, o privilégio de andar no calçadão todas as manhãs, sentir a brisa no rosto, ter a vista do mar, etc. Hoje, vou falar exclusivamente de construções e reformas no litoral, de forma a contribuir nas decisões de meus leitores, além de ajudar os arquitetos marinheiros de primeira viagem. Então, vamos para a praia?

Regularização do imóvel

É muito comum ver projetos de casas de praia terem problemas com regularização. Então, as primeiras questões a serem analisada são: onde fica o terreno ou imóvel que você está comprando? Existe uma escritura em cartório? Está tudo regularizado? Há uma área de proteção ali? A construção está muito próxima da faixa de areia? Ou de um córrego? Há diversos casos, até mesmo de condomínios de alto padrão, que infelizmente, não respeitaram regras importantes. Por isso, fique de olho antes de começar uma obra em um terreno no litoral, pois o seu sonho pode virar um pesadelo e você pode acabar com a sua obra parada. 

Épocas para reforma

Principalmente nas cidades com apelo mais turístico, 99% das pessoas buscam reformar suas casas de praia em períodos mais frios, como Outono e Inverno. Afinal, todo mundo quer aproveitar o espaço quando as temperaturas esquentarem. É exatamente aí que mora o problema, pois tudo fica mais caro! A mão de obra, que já costuma ser escassa nessas regiões, fica ainda mais difícil de se contratar nesse período, seguindo a lei da oferta e da procura. Para quem puder esperar mais um pouquinho, fazer a obra nos períodos menos requisitados é garantia de economia, afinal aqueles profissionais estarão com menor demanda.

Logística

Em casos de praias em regiões maiores e mais desenvolvidas, como Rio de Janeiro, São Sebastião ou Santos, por exemplo, é mais fácil ter uma boa estrutura, com tudo a mão. Porém, em casos de praias essencialmente turísticas, como Camburi, Baleia, Toque-Toque, etc., ou que ficam mais distantes de grandes centros, é possível que você não encontre um depósito de material de construção na praia (ou achará poucas opções para compra). Provavelmente, você também não verá muitas opções de móveis e objetos decorativos. Resultado: você terá que ir até mais longe e visitar os vizinhos. 

Por isso, quando o seu escritório for construir uma casa de praia, preste atenção na logística da obra e do projeto. Você vai acompanhar o seu cliente em uma loja de móveis? Será que tem um comércio do tipo naquele lugar? Em alguns casos, eu já trouxe clientes meus para comprar móveis aqui em São Paulo. Afinal, talvez seja mais vantajoso comprar os itens aqui e mandar entregar todos de uma vez. Sendo assim, não é tão simples fazer um orçamento desses, porque é essencial entender como os materiais vão chegar no local, valores de fretes, etc. Por exemplo, recentemente, eu fiz um orçamento de materiais em Ilhabela. Lá os itens são mais caros, pois eles chegam de balsa. 

Paisagem

As duas primeiras perguntas que moradores e arquitetos devem fazer são: qual é a vista que queremos ter? E o que não queremos ver? Para isso, irei voltar ao exemplo do Litoral Norte, lá há várias praias com estradas que passam por trás, que cortam a praia. Então, será que aquela estrada é agradável? Talvez uma boa saída seja colocar as janelas para o lado do mar e da vegetação e, para o lado da estrada fazer uma “empena cega”, ou viro a construção e não faço nenhuma abertura de janela (até por causa de barulhos).

A tecnologia também pode ser uma boa aliada. Em um de meus artigos, eu citei um projeto de uma pousada em que utilizamos fotos de drone para conhecer o entorno do local. O que é mais bonito para mostrar? Que tipo de vegetação tem em volta do terreno? Que vista pode ser valorizada? Com a ajuda de equipamentos adequados, nós temos uma visão muito mais ampla de tudo. 

Cuidados com os materiais / Oxidação

A maresia é um dos problemas de quem vive em casa de praia, que resulta na oxidação dos metais. Por isso, na hora de comprar as dobradiças ou fechaduras de portas, torneiras ou eletrodomésticos em geral é importante buscar materiais específicos que sejam resistentes à maresia, que apresentam uma camada extra de proteção. E, mesmo entre os tipos de metais há diferenças – o inox é mais resistente à maresia, enquanto que ferro e o aço suportam menos os seus efeitos. Então, é melhor optar por uma churrasqueira em aço inox, por exemplo, do que com uma com pintura galvanizada sobre o aço somente, que vai oxidar com mais facilidade.

O mesmo eu falo sobre a madeira. Afinal, os clientes de casas de praia adoram decorar com madeira, pois remete ao clima praiano! Por isso, também precisamos analisar a composição do material. Eu, particularmente, gosto de usar muito madeira do tipo Cumaru para fazer decks, pois é super resistente, suporta sol, chuvas, etc. Afinal, se você não escolher um material adequado, que seja forte frente às mudanças de temperatura, vai começar a rachar a trinca e você corre o risco de perder todo o seu madeiramento, o seu deck, as suas esquadrias de portas e janelas… Por exemplo, em um projeto em Camburi, nós colocamos uma porta de correr na entrada da casa e fizemos uma boa pesquisa para saber qual seria a madeira mais correta ali, pois batia muito sol. Caso fosse uma madeira muito “mole”, como o pessoal chama na linguagem popular, a porta poderia rachar ou empenar.

Ventilação

Verão, sol, calor, é o que todo mundo quer, não é mesmo? Menos dentro de casa! Afinal, ninguém quer que sua residência vire um verdadeiro forno! E, como já sabemos, as casas de praia costumam ser muito quentes. Então, na hora de construir, será que já não vale a pena fazer uma exaustão natural? Ou uma abertura no telhado para ter um escape desse ar quente? Ou criar janelas uma de frente pra outra? (porque esse tipo de solução, “ventilação cruzada”, acaba gerando economia). Em resumo: se você fizer uma casa e não pensar nas soluções naturais que podem ser empregadas, você vai acabar gastando uma fortuna com climatização e sistema de ar-condicionado, portanto a sua conta de luz vai ficar muito cara! Ainda mais agora com os constantes aumentos dos últimos tempos! 

Para finalizar esse tópico, há outra questão importante, agora sobre películas para janelas. Diferentemente daquelas que conhecemos, principalmente em carros, agora existem as películas inteligentes, que são transparentes e bloqueiam mais de 98% dos raios UV, portanto não permitem a entrada de calor dentro de casa. 

Telhados mais claros

Há um tempo, teve até um movimento da organização Green Building Council (GBC), que incentivava as pessoas a pintarem os seus telhados de branco. Hoje existem tintas próprias para isso, além de telhas mais claras. Essas são soluções muito legais, afinal tais superfícies refletem menos a luz do sol e esquentam menos a casa. Por exemplo, a telha de barro, que é mais comum, é muito escura. Então, absorve muitos raios solares, que acabam esquentando mais. O mesmo exemplo vale também para cores de tintas de paredes. Se você pintar de preto ou marrom uma casa de praia, você vai estará absorvendo muito os raios solares, o que irá esquentar o ambiente por condução térmica. Parece brincadeira, mas a cor não é só estética, ela vai influenciar na função da casa no dia a dia, na economia de energia, etc.

Qualidade do solo

Já vimos vários exemplos de prédios que são tortos, ou até mesmo que caíram, não é mesmo? Esse problema pode ocorrer por vários motivos, entre eles a construção de imóveis em áreas com lençóis freáticos ou mangues. A minha dica é: verifique o terreno, faça uma sondagem para ver qual é a resistência do solo. Não caia em nenhuma conversa de quem fala: “já fiz várias casas, aqui é firme, dá para construir por cima”, pois isso pode resultar em muita dor de cabeça pra você.  

Fique de olho!

No meu artigo sobre obras à distância, eu abordei os problemas que a falta de uma supervisão pode gerar. Por isso, eu aconselho que você (morador), tenha um arquiteto ou engenheiro para supervisar a obra e ficar de olho por você. No caso dos escritórios de arquitetura ou engenharia, a recomendação é que uma pessoa fique responsável pela coordenação no local. Dessa forma, os riscos de erros serão bem menores. 

Energia do sol

O sol também pode trazer uma série de benefícios. Ao invés de você colocar chuveiros elétricos, ou aquecimento de piscina, é possível apostar em um aquecimento solar. Lógico, você vai ter um investimento inicial, mas depois você não vai ter aquele gasto com energia elétrica. Aproveite a abundância do sol na praia para então utilizar sistemas, como o aquecimento solar de água, além da energia fotovoltaica (que consiste em placas que transformam energia solar em elétrica).

Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)

Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT. 

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