Hoje, a nossa conversa será focada em obras corporativas. Você sabe as reais diferenças entre gerenciar um serviço para empresas e outro para residências? De forma equivocada, muitos profissionais de arquitetura acreditam, que realizar excelentes reformas em apartamentos, também é garantia de sucesso com clientes corporativos. Porém, há um caminho ainda mais complexo a ser trilhado. Para se ter uma ideia, no meu escritório tenho departamentos distintos para cada tipo de obra, em razão de suas específicas formas de trabalho. Nas próximas linhas, vocês vão entender o porquê…
Identidade da marca
Antes de começar essa jornada, você precisa identificar quem é o seu cliente, qual é a imagem que ele deseja passar, quais são as suas necessidades e exigências. Cada empresa tem um conjunto de símbolos que a define no mercado, por isso é importante prestar atenção em cada detalhe da sua comunicação visual, geralmente com o briefing do setor de marketing. Imagine, por exemplo, na hora de pintar as paredes da sede da empresa, será necessário seguir regras, tais como o desenho fiel da logomarca, a fonte de escrita correta, além da escala Pantone, que apresenta as cores exatas da paleta.
Turn Key
Você sabe o que significa o sistema Turn Key? Pois, bem, para executar obras corporativas, é essencial que você saiba o seu real significado. Chamado popularmente, na língua portuguesa, de “entrega das chaves”, ou “chaves na mão”, consiste em um serviço destinado a uma única empresa, em que ela fica responsável pelas resoluções de problemas do princípio ao fim. No fim das contas, seu cliente irá apenas girar a chave para entrar no local quando tudo estiver completamente finalizado, com computadores ligados, instalados e tudo mais! Ou seja, sem nenhuma dor de cabeça com obras, materiais, mudanças, embalagens, mão de obra, etc.
Obra Residencial x Obra Corporativa
Uma das maiores diferenças entre esses dois tipos de obras aparece na hora das compras. Quando falamos de empresas, não podemos esquecer que móveis, aparelhos eletrônicos e outros objetos podem ser inclusos como valores de seu patrimônio, conhecidos também como ativos da empresa. Por exemplo, na aquisição de um ar condicionado, se o escritório de arquitetura o comprar e apenas embuti-lo no valor da obra, não será possível o cliente “ativá-lo” posteriormente em seu patrimônio. Nesse caso, é preciso ter a nota fiscal do fornecedor para a ativação pelo setor financeiro. Alguns escritórios, que já têm bastante experiência com esse tipo de situação, já sabem separar o que é ativo e não ativo. Porém, se você ainda não tem esse know how, recomendo, sempre nas reuniões, envolver um funcionário do setor de compras da empresa em questão. Ela deverá te fornecer todas as diretrizes: o que eles vão comprar diretamente, qual CNPJ deve constar nas compras feitas pelo seu escritório, se é possível comprar na obra e emitir nota fiscal para o cliente, etc.
Quantidades
Quando falamos em obras corporativas, nós estamos tratando de grandes quantidades de itens. Diferente de uma casa, se você vai montar um escritório, será preciso comprar 100, 500, até 1000 cadeiras, a depender do porte da corporação. Dessa forma, se você compra e revende para eles, isso é tributado duas vezes – pois você está pagando imposto para comprar e também para revender. Por meio de conhecimento na área, você poderá dar uma consultoria para seu cliente, de forma que ele reduza tais gastos. Portanto, os profissionais de arquitetura já costumam identificar no orçamento os itens com grandes volumes. A partir daí, os separam para a empresa fechar direto com o fornecedor, sem a presença de um intermediário, evitando a “bitributação”.
Prazos e prejuízos
Você conseguiria entregar uma reforma de escritório em cerca de 2 ou 3 meses? Então, é bom se preparar! Atualmente, essa é a média de tempo para a execução desses serviços. Como sempre alerto, ter um cronograma bem definido é essencial! A entrega de um espaço com atrasos vai impactar uma equipe inteira, que pode ficar até sem local para trabalhar. Imagine que essa empresa está temporariamente em outro espaço alugado, com data para devolvê-lo, ou que já repassou todos os seus equipamentos, planos de telefone e internet para o endereço novo. Nesses casos, é muito comum o cliente entrar com um processo judicial contra o escritório de arquitetura, além do fato que os contratos também apresentam multas contratuais por possíveis atrasos.
Atenção para os horários
Outra grande diferença é o período de execução da obra. Enquanto nas residências, o trabalho ocorre em horário comercial, no corporativo, geralmente a obra acontece à noite, para não impactar os demais escritórios. Nesse sentido, há questões diferentes para se levar em conta, tais como os adicionais noturnos dos funcionários, além da própria estrutura que é diferente – como não há restaurantes abertos à noite, será instalada uma copa no local da obra? Entre outros exemplos.
Especialização
Falando na equipe, ter profissionais altamente especializados é essencial para ingressar nessa área. Afinal, vocês terão que entender o funcionamento de todos os aspectos que envolvem a empresa: iluminação, encanamento, elétrica, ar condicionado, redes de internet, data center, telefonia, estruturas internas da empresa, formas de trabalho, etc. Veja, por exemplo, apenas um equipamento de certificação de cabos custa mais de R$ 50 mil, portanto não será qualquer tipo de eletricista que irá manuseá-lo. Outra situação interessante: na hora de passar os cabos de rede para internet, é importante conhecer cada tipo disponível, para então colocar o mais adequado para as necessidades. Se você estiver atendendo uma empresa de tecnologia, com certeza precisará de um cabo mais eficiente do que um escritório administrativo, por exemplo.
Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)
Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT.