Em um dos meus artigos anteriores, eu abordei diversos fatores para ter uma casa saudável. Nesse texto, eu falei brevemente sobre construções sustentáveis, o que gerou maior curiosidade de meus leitores. Por isso, hoje vou aprofundar a questão da sustentabilidade nas obras – sejam reformas ou construções do zero – de forma a esclarecer para o maior número de pessoas como realizar esse tipo de trabalho. Minhas dicas valem tanto para quem é cliente e deseja ter uma casa nesses moldes, como para arquitetos, engenheiros e designers, que querem conhecer mais sobre o tema. 

Muita atenção!

Em primeiro lugar, é necessário dizer que a construção sustentável não é um assunto tão simples quanto parece. Essa impressão equivocada ocorre, porque esse tema se popularizou muito nos últimos tempos. Mas, definitivamente, ter uma casa que se enquadre nos parâmetros sustentáveis requer diversos cuidados, além de um investimento inicial. No fim, vale muito a pena, mas é preciso ir com calma para que tudo saia como o planejado. Por isso, a dica que dou aos clientes é que procure profissionais especializados no mercado. E, para quem deseja trabalhar nesse ramo, que busque as certificações específicas da área. Vamos falar delas?

Certificações

Entre os principais certificados sustentáveis para edifícios no Brasil estão: o LEED (da Green Building Council), a AQUA-HQE, da Fundação Vanzolini (USP), o selo PROCEL Edifica, o selo Casa Azul, entre outros. Para quem deseja se especializar, é importante dizer que todas elas têm parâmetros e pontuações, que podem agregar muito à carreira do profissional e aos projetos que forem realizados. 

Logística

Ser sustentável não é apenas se preocupar com o uso de itens e tecnologias “verdes”, mas também pensar em como aquela obra pode impactar o meio ambiente. Um item muito importante é entender a logística dos materiais que você vai trazer. Supomos que você está realizando uma obra em São Paulo, mas os tampos de pedra vêm de um estado muito distante, por exemplo Ceará. Então, você não está sendo sustentável, pois a logística é “poluente”. Afinal, para trazer o material até aqui, provavelmente a carga virá de caminhão e gastará muito combustível. E, infelizmente, são raras as opções de meios de transporte ecológicos para esses fins. Então, observe de onde vem a extração dos materiais que você utilizará na sua obra. Não adianta ser um elemento reciclável, mas que veio de muito longe, não é mesmo? Dê preferência a produtos que sejam desenvolvidos na região. 

Descarte e Cadeia Sustentável

Como expliquei acima, não adianta se preocupar somente com o produto final, mas sim analisar toda a cadeia sustentável. Como é o descarte dos materiais? Para onde eles serão enviados? Você e sua equipe sabem realizar a seleção correta desse entulho? Afinal, é preciso dividir os detritos por tipo, para que não poluam o ambiente. Veja bem, você não pode descartar uma lata com solvente de tinta em uma caçamba, pois isso poderá parar em um aterro sanitário, resultando na polução do solo. Nesse caso, o ideal é jogar os resíduos químicos em um tonel separado, lavar as latas e, posteriormente, enviar para uma empresa de reciclagem de alumínio. 

Quanto mais você destinar o seu entulho para empresas especializadas, melhor será o resultado final para o meio ambiente. No caso do concreto, há locais que recolhem o restante desse material, realizam a moagem, para então transformá-lo novamente em blocos para a construção civil. Ao invés de enviar para um aterro, você está gerando um novo uso. É exatamente isso que faz o ciclo seguir cada vez mais forte. E isso vale para tudo: pedras, plástico, tecidos, metais, etc. Aliás, falando no metal, esse é um dos melhores itens para a reutilização! Afinal, no dia em que você precisar desmontar uma construção, a estrutura metálica não se tornará entulho, pois será reciclada. 

Por fim, ainda falando em reciclagem, em todas as obras de meu escritório, a minha equipe recicla todos os cabos de eletricidade, enquanto que os cabos de rede, nós enviamos diretamente para o fornecedor, que os utiliza para fazer cabos novos. 

Reaproveitamento da Água

É possível captar e reutilizar a água da chuva para a descarga dos vasos sanitários. Isso dá muito certo, principalmente em grandes empresas, com um alto número de pessoas. Afinal é uma quantidade enorme de água que será economizada. Mas, atenção: isso não vale para torneiras, duchas e chuveiros, pois essa água não é tratada adequadamente para consumo, apenas captada. Exatamente, para isso, as tubulações devem ter cores diferentes, para que seja possível distinguir a água própria para uso, a pluvial ou o esgoto.

Energia do Sol

Já que estamos falando de reaproveitamento, não podemos esquecer da energia que é gratuita para nós todas as manhãs: a luz solar! Um imóvel com um projeto sustentável, que explora bem os espaços, ou tem boas ideias, com certeza vai captar mais luz natural e, consequentemente gastará menos energia. Nos EUA, eu visitei um edifício que captava a luz do sol por meio de espelhos. Basicamente, eles ficavam posicionados na cobertura do prédio e refletiam esses raios para dentro. Portanto, uma grande sacada do arquiteto!

Também é possível transformar a luz do sol em energia elétrica, como é o caso das placas fotovoltaicas. Por fim, outra alternativa é a utilização de placas pretas nos telhados, que absorvem o calor e ajudam a esquentar a água de uma casa. Com práticas como essa, você está gerando sua própria energia. É claro, que para isso é necessário muito planejamento, profissionais especializados e um projeto bem definido. 

Economia de energia

As boas ideias atreladas à arquitetura e a tecnologia podem contribuir muito com a sustentabilidade. Vou citar alguns exemplos: vale utilizar as lâmpadas de LED, pois consomem menos energia em comparação com outros tipos de artigos. Assim como instalar sistemas inteligentes de ar condicionado ou de iluminação (por meio de sensores ou controladores que reduzem o desperdício), além do uso de películas inteligentes nas janelas (que bloqueiam mais de 90% dos raios UV, e não permitem que a residência esquente tanto), o que resulta em economia de energia, pois não será necessário acionar uma climatização. 

Em um projeto que realizei no interior de SP, fiz uma casa grande sem nenhum sistema de ar condicionado, sabe por quê? Nós criamos uma abertura no telhado e uma exaustão natural. Assim, o ar quente sobe e ocorre uma circulação de ar cruzada dentro da residência, conclusão: o ambiente é muito bem ventilado!

Método Construtivo

Analisar o tipo de construção que se pretende realizar também é essencial para a sustentabilidade. Afinal, cada uma delas tem um impacto diferente – alvenaria, estrutura metálica, etc. O que indico é que você sempre dê preferência para a arquitetura vernacular, ou seja, a utilização dos próprios materiais regionais para erguer a sua construção. Por exemplo, no mesmo projeto do interior que comentei há pouco, eu aproveitei a terra do terreno para fazer uma tinta especial e as pedras da escavação para criar uma escada. Já os tijolinhos, eu trouxe de uma casa que foi demolida no centro da cidade, assim não foi gerado entulho e, ainda, economizamos material. 

Personalização

Para evitar o desperdício, você sabia que há construtoras que confeccionam blocos de tamanhos específicos? Exatamente para não ter que quebrar blocos inteiros e usar somente uma parte deles, a depender do espaço que precise ser preenchido no ambiente. Pequenos detalhes fazem toda a diferença, não é mesmo?

Pegada Ecológica

Para finalizar o nosso artigo, você sabe o que é isso? Pegada Ecológica é a quantidade de recursos materiais e energéticos que você consome, e que também acaba gerando para o meio ambiente, de acordo com seu estilo de vida. O ideal é que tenhamos uma pegada ecológica baixa, ao gerar menos resíduos e menos lixo para o mundo. Por isso, na hora de fazer uma construção nós também analisamos a “pegada ecológica” daquele projeto e local. Essa palavra é muito utilizada na sustentabilidade hoje em dia. Por isso, a guarde na sua memória, assim como as nossas dicas!

Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)

Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT.

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