Há 30 anos eu projeto residências e apartamentos. Tive a oportunidade de vivenciar as diferentes fases econômicas deste país e sua relação com a arquitetura e a construção civil. Na década de 90 se falava sobre os grandes condomínios, que teriam tudo, desde supermercados até cinemas. E o sonho era ter grandes apartamentos, com amplas salas para poder receber um grande número de pessoas. Quanto maior, melhor.  Em seguida vieram as grandes varandas, os sonhados espaços gourmet, também com a mesma ideia de receber o maior número de pessoas possível. 

Mas, então, surgiu um novo público e um novo perfil de imóveis. Um grupo de pessoas totalmente diferente, mais minimalista, nada acumulador e super prático. Para esses moradores, menos é mais. Menos no sentido de que tudo o que se tenha, caiba numa mala. Mas como assim? Por que? E qual o objetivo? São pessoas que trocam coisas por experiências e que acreditam que precisamos muito menos do que pensamos. Em termos de investimento, basta pensarmos no custo. Se você vive em um apartamento que não utiliza todos os espaços que ele tem, então você não precisa desses espaços e está desperdiçando dinheiro. 

Ao analisarmos mais profundamente, percebemos algumas características em comum entre esses usuários: procuram praticidade, agilidade, facilidade e menos preocupação. Acreditam que a vida tem mais a ver com experiências, flexibilidade e tempo. Por exemplo: são jovens que querem poder aproveitar a oportunidade de viajar para qualquer lugar do mundo sem se preocupar com deixar muita coisa para trás; são pais cujos filhos já cresceram e saíram do ninho e agora querem praticidade, são idosos que buscam menos preocupação para cuidar da sua própria casa; são profissionais que querem adotar um estilo nômade de trabalhar e viver. 

E qual a vantagem disso? Em primeiro lugar trata-se de uma proposta sustentável. Nesses condomínios de apartamentos pequenos é muito comum encontrar: carro compartilhado, lavanderia compartilhada, reaproveitamento da água da chuva, reciclagem do lixo, e tantas outras soluções eco sustentáveis. Além disso, quanto menor o espaço menor o investimento para manter o local em termos de limpeza, aquecimento, resfriamento, etc. E dependendo da localização, reduz o transporte com carro, permitindo o deslocamento a pé, bicicleta, ou outros meios de transporte que não poluam. Viver em lugares menores será a saída para as grandes cidades, principalmente no que se refere a preservar o meio ambiente.

E como fazer funcionar o dia-a-dia num apartamento pequeno e com tão poucas coisas? Tenha espaços multifuncionais. A sala de estar pode se tornar o dormitório apenas com a abertura ou fechamento de algum móvel ou armário. Em alguns casos até as paredes podem mudar de lugar. Existem diversas soluções de aproveitamento dos espaços. 

Ter um apartamento pequeno não significa ser contra o consumo ou abrir mão do que você gosta, mas sim investir com propósito e consciência. Ter aquilo que a gente realmente usa e precisa, com qualidade.  Mais importante que o tamanho do apartamento, é a vida que se vive dentro dele.

Isabela Nalon (@isabellanalon)

À frente do Nalon Arquitetura, atuou como arquiteta na Prefeitura de Münster, na Alemanha. Acumula mais de 20 anos de experiência em projetos residenciais, comerciais e corporativos.

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