A cerâmica é um dos revestimentos mais usados no Brasil, seja em construções residenciais ou comerciais. Por mais versátil que seja, o material — assim como qualquer outro — pode sofrer algumas patologias, uma delas sendo o desplacamento por diferença de temperatura. Para evitar essa dor de cabeça e garantir a longevidade da estrutura é preciso que haja uma combinação certeira na hora da instalação, envolvendo a própria placa cerâmica, a argamassa, o tipo de rejunte e outros cuidados. Neste artigo, vou explicar os motivos e agravantes da situação e reunir dicas para preveni-los.
Motivos do Desplacamento
A cerâmica é um material que dilata, então é comum que se expanda no calor e contraia no frio. Sendo assim, ela pode se soltar da parede ou piso, ou até mesmo trincar, quando ocorre um choque térmico. Tudo está relacionado à capacidade de absorção do material e isso é medido pela sua porosidade: quanto mais poroso, mais líquido irá absorver. E é justamente essa entrada de água no interior da massa que aumenta as chances do desplacamento.
A mudança brusca de temperatura pode acontecer por diversas razões. Em uma fachada é normal que o motivo sejam as intempéries: em um momento faz muito sol e, em outro, muita chuva. Essa alteração rápida causa a dilatação e, por consequência, faz com que o elemento se desprenda. O mesmo pode acontecer no piso que está muito quente e que recebe um balde de água gelada.
Agravantes do Desplacamento
A questão da porosidade, que citei anteriormente, é um dos principais agravantes quando falamos do desplacamento por temperatura, mas não se trata do único. O uso da argamassa inadequada, por exemplo, é outro fator que contribui para o problema com bastante frequência.
Hoje em dia, existem produtos muito resistentes no mercado, que proporcionam boa aderência da cerâmica com o contrapiso, e até tipos específicos para cada necessidade: grandes formatos, peças para fachadas, entre outros. Já no passado, era padrão usar cimento para instalar o revestimento, motivo pelo qual é usual ver casas antigas com situações assim, em que o piso começa a pular, trincar e soltar.
A junta de dilatação também tem um papel fundamental nessas ocasiões. Ela nada mais é do que a camada de rejunte, o espaçamento deixado entre as placas que compõem o revestimento para que seja possível a expansão térmica — geralmente, a informação de quanto espaço deixar vem na própria caixa da cerâmica. E ainda vale levar em consideração se o acabamento é retificado (cujas bordas têm definições precisas e apresentam pequenas variações), pois se não for, a recomendação do próprio fabricante é realizar uma cama de rejunte maior.
Quando falamos de porcelanatos, vários fatores favorecem, como a baixa absorção de água e o acabamento que, na maioria das vezes, é exatamente o retificado, o que facilita uma área de rejunte menor.
Um dos principais fatores que pode causar o desplacamento cerâmico é o choque térmico, não utilizar a argamassa correta ou movimentação da edificação. Quando você instala a cerâmica sobre um piso ou parede de um edifício que tem muita vibração, este fator pode desplacar as peças.
Dica Final: Junta de Dessolidarização
Como uma última ressalva, trago a importância da junta de dessolidarização, termo usado para indicar o espaçamento entre o revestimento de piso e a parede. Quando se faz a instalação, nunca é recomendável fechar totalmente esse ponto, porque como vimos, o revestimento possivelmente irá dilatar. Se esse for, de fato, o caso, a falta do intervalo fará com que a cerâmica rache ou destaque.
E detalhe: o rodapé vai esconder essa solução, então não é preciso nenhuma medida estética para remediá-la.
Bruno Moraes (@brunomoraesarquitetura)
Arquiteto pela Belas Artes, pós-graduado pela FAU-Mackenzie, especialista em gestão e execução de obras. Atuou no escritório de Siegbert Zanettini e foi o arquiteto do Programa Eliana, do SBT.