Cada projeto que o arquiteto cria e desenvolve tem suas peculiaridades. Independentemente da fase de vida do cliente, cada projeto é único e específico para as necessidades daquele morador. Mas quando falamos em terceira idade, entendo que temos que pensar em algo libertador, que ofereça à família a possibilidade de usufruir dos espaços em sua plenitude, sem perder sua identidade.
Há poucas décadas, a terceira idade era considerada o momento da aposentadoria, de reduzir o ritmo. Hoje, temos um aumento da expectativa de vida e o número de idosos está cada vez maior, além disso, o perfil do idoso também vem mudando. Com isso, a arquitetura precisa se preparar e se adaptar para poder oferecer uma melhor qualidade de vida para os idosos.
Mas quem é considerado idoso? No Brasil, trata-se da pessoa acima de 60 anos, sendo que em alguns países essa idade passa a ser 65 anos. Mas eu não acredito em definir as pessoas pela idade e sim pelo que ela é e suas necessidades. Existem vários tipos de idosos, pois cada um traz uma história de vida diferente. Quando projetamos pensando nele, independentemente da sua história, temos que considerar diversos pontos, sempre considerando a saúde e o bem-estar, além de segurança física e emocional. Mais do que bem equipada e planejada, a casa tem que refletir a história do morador e a casa para o idoso, sobretudo, é o local onde ele guarda suas memórias e onde se reconhece e se refugia.
Os espaços precisam ser bem iluminados, sem áreas de sombra, garantindo segurança. Sempre que possível, muita iluminação natural, reforçada pela artificial. Espaços bem ventilados, trazendo bem-estar. Ambientes livres de obstáculos, de fácil circulação, permitindo liberdade de movimento tanto para uma cadeira de rodas quanto para duas pessoas caminhando lado a lado. Quando possível, integrar os espaços com a natureza, criando uma relação do interno com o externo, ou então ter sempre o verde dentro de casa. Evitar pisos com desníveis, utilizar rampas e pisos antiderrapantes de preferência sem brilho, luzes de emergência e sensores de movimento. Escolher materiais de fácil limpeza e manutenção, tendo assim um ambiente sempre limpo. Áreas de descanso quando houver grandes distâncias a serem percorridas, e uso de barras de apoio nestas circulações e em pontos estratégicos, inclusive nos banheiros. Mobiliários nas alturas adequadas. Uso de referências visuais que ajudem o idoso a se localizar e se orientar, através de sinalização ou cores.
Evite itens que possam causar acidentes domésticos, tais como: pisos escorregadios, tapetes, fios soltos, portas pesadas, maçanetas redondas, armários de difícil acesso e tudo aquilo que possa limitar o idoso ou provocar acidentes. Cada idoso tem suas necessidades específicas, e cabe ao arquiteto identificar, através de uma boa conversa, quais são elas, e adotar soluções mais assertivas. O arquiteto tem papel fundamental em promover a autonomia e independência da pessoa idosa dentro do seu lar, propiciando dignidade e qualidade de vida.
Temos que saber diferenciar autonomia e independência. A arquitetura pensada para o idoso tem como missão ajudar nessa independência para realizar os afazeres diários. O idoso perde a autonomia quando não pode mais decidir sobre coisas essenciais de sua vida. Um lar deve adaptar-se às necessidades de seu dono, de acordo com cada fase de sua vida, e deve refletir a alma do morador.
Isabella Nalon (@isabellanalon)
À frente do Nalon Arquitetura, atuou como arquiteta na Prefeitura de Münster, na Alemanha. Acumula mais de 20 anos de experiência em projetos residenciais, comerciais e corporativos.