Prof. e engenheiro Enrico Mangoni*

O trágico evento que afetou o Rio Grande do Sul (RS), em abril, impactou muito na vida da população. No setor da construção civil, provocou a perda de várias construções e infraestruturas, deixando nos casos de menor relevância, danos com diferente importância.

Nós, italianos, conhecemos bem tais situações, porque a nossa terra, além de ser um dos lugares mais amados do mundo, é muito frágil, e já foi afetada, por exemplo, por vários terremotos. Entre os maiores dos últimos 120 anos, lembramos por exemplo: Messina, 1908 (82.000 mortos); Avezzano, 1915 (32.000 mortos); Friuli Venezia Giulia, 1976 (976 mortos); Napoli, 1980 (237 mortos); Abruzzo, 2009 (309 mortos), e Emilia Romagna, 2012 (26 mortos).

Além dos mortos, os terremotos produzem um forte impacto nas casas de cada um de nós, e para os italianos a casa é parte fundamental da sua identidade e do seu patrimônio. Partes das construções devem ser reconstruídas, outras precisam ser recuperadas, e a escolha dos dois casos é fundamental para a retomada de um lugar depois do terremoto.

Para o setor da construção civil, a reconstrução/recuperação, além de ser um desafio, é sempre uma oportunidade de crescimento, porque as intervenções devem ser rápidas e eficientes. Assim, são empregadas as últimas e mais inovadoras tecnologias construtivas.

Tudo isso determina uma evolução na qualidade das construções e deveria conduzir a construções resilientes, com ótima capacidade de adaptação aos eventos extremos futuros, sem quedas repentinas.

Isso é bem claro nos dados dos terremotos citados, em que o número de mortos caiu ao longo do tempo, algo claramente ligado à magnitude do terremoto, mas também à vulnerabilidade das construções.

O cenário se adapta muito bem ao que aconteceu e deveria acontecer no futuro do RS. 

Atualmente, o Brasil vive uma ampla discussão sobre a necessidade de evolução na construção civil, principalmente ligada à falta de mão de obra. Exemplo disso é o Modern Construction Show, primeiro evento sobre este segmento e que acontece em outubro no Anhembi, em São Paulo.

Todos falam sobre a necessidade da industrialização da construção pensando, com isso, em amenizar os impactos futuros da falta de mão de obra que será sempre mais consistente.

Tal atuação é diferente para o setor das novas construções e do patrimônio construído existente. No primeiro caso, sustentabilidade significa projetar, construir, gerenciar com materiais, soluções e processos sustentáveis; no segundo, significa fazer muitas intervenções de retrofit, aproveitando ao máximo o que já existe e evitando a nova extração de materiais e as consequências ambientais das demolições.

No Brasil, a construção industrializada e sustentável e também o retrofit são pouco praticados por várias razões. Entre elas, podemos citar a falta de conhecimento sobre esses assuntos. 

Os desafios da reconstrução/recuperação no RS podem ser resumidos em poucas perguntas: Quais construções reconstruir e quais merecem ser recuperadas para a transferência do patrimônio às gerações futuras? Quem pode reconstruir e como? Como será possível reconstruir rapidamente uma tal quantidade de edificações com a atual falta de mão de obra? Como realizar novas construções resilientes a futuros eventos extremos?

Na nossa visão, as respostas são bem claras: Para construir rapidamente e com qualidade, a construção deve ser industrializada o mais possível. Para construir de forma resiliente e sustentável, a construção deve ser moderna. Para não perder a identidade dos lugares, é preciso fazer intervenções de retrofit, contribuindo também para a sustentabilidade do planeta.

Empregando as tecnologias construtivas tradicionais e mais conservadoras atualmente disponíveis no mercado brasileiro, dificilmente poderemos atender os conteúdos das respostas.

Poderemos resolver positivamente um problema de tal dimensão somente com a introdução de novas tecnologias feitas com materiais e elementos construtivos diferentes, realizando, assim, construções híbridas otimizadas para o problema particular a ser resolvido, sem empregar a mesma solução para qualquer caso.

Nesse processo, todos os materiais participam, mas com certeza o aço, pelas suas características, será o material principal.

Para que essa onda tenha efeitos ao longo do tempo será necessária também, uma atuação com diferentes velocidades; no imediato, a ação de algumas empresas inovadoras introduzindo novos sistemas; ao longo do tempo, a atividade das escolas e das instituições na formação de técnicos, projetistas e, também, operários especializados. O crescimento necessitará obviamente de investimentos e envolverá fortemente os setores do funding e de incentivos estatais.

Esperamos que o desafio da reconstrução de um Estado seja a oportunidade de crescimento de um setor para o país inteiro. Assim, o Brasil terá feito o melhor emprego dos recursos necessários para a retomada do RS.


 * Engenheiro civil com PHD em Engenharia das Estruturas e professor da Universidade de Florença (Itália), vai palestrar no Modern Construction Show sobre “A importância das construções híbridas para uma construção moderna e sustentável – Novas realizações e retrofit das construções / infraestruturas existentes”. É titular do Studio Mangoni na região de Toscana (Itália) e da filial brasileira Studio Mangoni Brasil.

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