Por Marcus Granadeiro*

No mercado de engenharia consultiva, a discussão, o planejamento e a estratégia de investimentos de tecnologia precisam estar mais integradas com as finalidades do negócio, e não tratadas de forma segregada, como acontece tradicionalmente. Quando isso ocorre, a tecnologia, normalmente, acaba sendo implantada sem repensar os processos, os entregáveis e até mesmo os produtos e mercados que poderiam ser atingidos. 

Ao pensar na implementação de novas tecnologias, o foco nos negócios é prioritário. Isso significa que é importante se perguntar sobre o que o cliente precisa,  como dar a informação necessária no momento que ele necessita  para tomar decisões,  qual o melhor formato de entrega dessas informações, como se diferenciar em termos de oferta e  como revolucionar. 

É comum ouvir que não se pode inovar em termos de entregáveis e produtos, pois é o cliente quem determina a demanda. Essa é uma cultura que precisa ser revista urgentemente. Empresas disruptivas como Uber, Airbnb e Waze não tinham clientes pedindo para que elas criassem essas plataformas que hoje dominam em seus segmentos. Sob esta ótica, não seria a engenharia quem deveria ser o indutor da inovação em nosso mercado? 

No mercado atual, o cardápio de tecnologias para criar ofertas inovadoras de engenharia nunca foi tão farto.  Hoje temos nuvem de pontos sendo gerada por drones, por scanners e até mesmo por celulares, assim como plataformas web de colaboração, padrões de modelagem e comunicação BIM (Building Information Modeling) abertos e sendo aperfeiçoados, além é claro do avanço da inteligência artificial. 

Nesse sentido, o primeiro grande desafio que se pode resolver com estas tecnologias é a atual falta de mão de obra no setor. A implementação de IA combinada com o uso de dados não estruturados permite automatizar e reduzir a necessidade de mão de obra em campo, sendo que a utilização dos agentes IA pode também automatizar processos feitos nos escritórios, liberando tempo para os engenheiros e arquitetos poderem focar  na criação e na geração de valor ao invés de se desgastarem com tarefas enfadonhas..  

Por exemplo, no setor industrial, uma pesquisa do Instituto Atlas Intel, em parceria com a startup Tractian e a Revista Manutenção, apontou que empresas brasileiras desse segmento  que adotaram tecnologias da Indústria 4.0, incluindo automação, sensores IoT, IA e big data, obtiveram aumento médio de produtividade de até 38%.

Então, o momento é para se repensar os processos, entender qual é o objetivo do contrato, apurar o que o cliente quer, analisar como está sendo  captado os dados em campo, como poderia melhorar, como  está se tratando e analisando os dados e como é apresentado tudo isso ao cliente. Hoje, como consumidor, queremos ter acesso à informação dentro do conceito do omnichannel, ou seja, ter a condição de  acessar o fornecedor via celular, internet ou pelo call center, sempre obtendo e interagindo com os mesmos dados. Isso possibilita fornecer uma visão holística do processo e não apenas enviar  o relatório no final do mês, em um formato estático.

A oportunidade está para todos, em muito pouco tempo o mercado demandará uma engenharia digital e dizer que fazer BIM será algo como, para os mais antigos, mostrar o diploma de datilografia. Essa metodologia vai sobreviver e ganha quem conseguir entender o cenário e melhor se adaptar a ela o quanto antes.

*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS), certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, que é parceira em treinamento e certificação da buildingSMART Brasil.

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